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sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Eu aprendi, meu bem
Que mais perto que nunca
Pode demorar também
E este limite tão cristão
Dá aos meus olhos o desejo
De regar todo o sertão

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Eu não faço amigos em festa.

Pode me beijar, que bafo eu suporto
Mas eu dispenso apresentações
Porque já passaram das três da madrugada
E eu não faço amigos em festa

Hoje a meia-noite se atrasou
Dia de sábado ela visita muita gente
Porque já passaram das três da madrugada
E ela ainda não veio quebrar meu encanto

Festa é assim, todo mundo bonito
Inclusive eu, meu bem
Por isso, tenho dito
Que não faço amigos em festa

Porque todo mundo sabe
Que meia-noite é o banho gelado
Que devolve aos teus cabelos o encaracolado
Que perdeste no salão ontem à tarde

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Nem sabonete nem perfume

Só eu tenho consciência
Que banho nenhum cura esse cheiro
De coração perecendo
Porque eu amo aqui
Onde não se pode amar

domingo, 5 de setembro de 2010

Do lado de cá

Na frente da minha casa vive um morro
É morro de saudade
Quem passa daquele muro vira morro
Quem fica morre de vontade

Versos Furtivos

Eu tiro da cartola
Um coelho cor de pesadelo
E lá se vai
A minha última carta na manga

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

A grande parábola do universo

Não se lembrar do que era para escrever é uma das desvantagens de quem adota o meu método, que se resume a escrever no pensamento antes de dormir, daí se você se lembra de tudo que pensou na manhã seguinte, ótimo, se não, você fica como eu estou agora: espremendo a memória para ver se sai alguma coisinha que te lembre. Então, vem à mente uma grande laranja, sim, era algo relacionado a uma grande laranja, essa é a única coisa que sei. Começo a pensar em outras coisas que pensei anteriormente, como na família do pai do meu avô, em São Miguel das Matas. Não o chamo de bisavô porque não o conheci, pra mim, ele não é nada meu, se não o pai do meu avô. Isso, agora eu me lembro bem do que estava pensando e, por curiosidade, não tem nada a ver com laranja nenhuma.

Eu queria ter nascido em 1960. Viveria a juventude nos anos 80 e daqui a alguns anos poderia aproveitar das viagens nacionais grátis para aposentados, que beleza. Mas não, poxa, vida, nasci em 1994 e na virada de ano de 1999 para 2000 minha mãe me disse que aquele era um grande acontecimento, uma virada de século e eu deveria estar feliz em presenciá-la porque aquela era a primeira e última vez que eu passaria de um século para o outro, mas não entendi nada. Alguns meses depois, quando via um bebê recém-nascido pensava: “este não verá uma virada de século, como eu vi” e isso de alguma forma fazia com que eu me sentisse melhor que eles. Grande porcaria, ver uma virada de século, sendo que não tenho nenhuma história pra contar antes disso, não se tem lá muitas experiências com cinco anos de idade, essa é a grande questão, parece que tudo que poderia acontecer já aconteceu antes do ano 2000, esse foi, embora pensem que não, o fim do mundo, como muitos disseram, e não adianta: qualquer medida tomada agora poderá até retardar o processo, mas não há cura para a humanidade. Vivemos, vivemos, vivemos e depois, vivemos mais um pouco, até evoluímos, vejam só, que legal, agora morremos, morremos, morremos e talvez o mundo qualquer hora acabe com outro Big Bang, nada mais coerente do que acabar como começou, é assim que funciona a grande parábola do universo.

domingo, 29 de agosto de 2010

O que é amor, Xangô?

Perguntaria ao padre o que é amor
Mas se não sei eu
Que amo sem razão de ser
O que um condenado a não amar
Poderá me responder?
Fui, então, falar com o pastor
Amor é todo sentimento puro
Respondeu-me
Mas puro é tão vazio
E amar é tão cheio
Que perguntei ao meu orixá
Afinal, Xangô
O que é amor?
Amor é tudo que se sente
Mal que a gente precisa
E água benta não exorciza

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Confissões de um coração ateu

Quando eu era criança e fazia maquete de fazendinha pra brincar a tarde inteira, eu cheguei a conclusão de que o mundo era uma maquete igual à minha, só que em um proporção muito maior, onde deus - ou seja lá como você o chama – fazia conosco o que bem queria e às vezes satanás aparecia pra sacanear com ele. Que droga, eu pensava, tudo que eu faço é porque deus quer, eu não tenho livre arbítrio, eu brinco de fazendinha toda tarde porque deus decidiu e quando eu não quiser mais fazer isso, é porque deus decidiu antes de mim. Isso fazia eu me sentir angustiada e me sentir angustiada por causa disso fazia eu me sentir completamente doida. Foi então que eu resolvi – eu, não deus – acreditar na não existência de deus. Mas e se deus existisse? E se eu fosse pro inferno? Eu não queria queimar eternamente, mas se tudo que dizem por aí é verdade, o céu também é um lugar chato pra cacete.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Os poemas que não mandei

Eu te escrevo cartas e poemas que nunca mando, mesmo assim, são todos mentirosos. Então, direi aqui as verdades que você não precisa saber; acho que te amo, mas não sou só sua quanto aparento ser. Não sei como parar de beijar as bocas que sempre beijei – ou desejar as que ainda beijarei - nem quero saber. Mil sinceros perdões, mas eu não quero mesmo aprender. Você não quer que eu diga ‘eu te amo’, mas o que mais tenho pra dizer? Se eu te amo, eu te amo. Porque eu te amo, eu te amo como nunca amei ninguém, porque nunca amei mais ninguém. O velho disse que amor é como orgasmo, ninguém vai saber te explicar, mas você saberá quando sentir. E é verdade, porque eu sinto, amor. Eu sinto amor.
Não me chegue reclamando
Eu já disse que não ando em bando
Se tá bagunçado
É porque eu to arrumando
Meu castigo é viver nessa casa de marimbondos
Ferrão que me atinge bem lá no fundo
Nem perca tempo com discurso vagabundo
Desse enxame não sou oriundo

domingo, 8 de agosto de 2010

Eu não tenho tempo para ouvir todos estes discos
Na minha estante envelhecem livros que eu nunca folheei
Enquanto aos filmes do bom gosto
Que os vejam quem estiver disposto
Mas em mim nunca pousou amor maior
Que a minha vontade de amar

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Amor profano

Se amor profano matasse
Do inferno eu seria freguês
Compraria tua alma à prestação
Pra te ter aos poucos
E ser tua de uma vez
Mas eu sou artista que no teu palco não atua
Dispenso traje
Fico nua
Entregando-me à embriaguez

Prefiro sentir dor a sentir poesia
Se não tenho a ti
Tenho a boemia

Não sei fazer soneto
Mas garanto
És a razão do meu pranto

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Apaguem as luzes

E se por uma dia eu não te conhecesse
Sobre o que seriam os meus versos?
Sobre o silêncio do meu pranto
Ou sobre o pranto do meu silêncio?
Apaguem as luzes
Eu penso melhor assim.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Cruel

O corpo, pobrezinho, sente ciúme do coração, que se contenta com tão pouco, por isso inventa de sair por aí se doando. Que crueldade negar carne à própria carne, diria ele a quem se aventurasse a corrigi-lo.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Um quase delírio

Calma, raio de sol
Não desista de nós antes de começarmos
Esse eclipse também me confunde
Desculpa, raio de sol
Eu sei que errei
Mas não nos deixe pela luz do luar
Ela nada mais é do que teu próprio reflexo
Não temos paciência para tantas fazes
E as estrelas são todas iguais
Veja bem, raio de sol
As noites ainda são iluminadas por tua causa.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Viagem Sideral

Príncipe do Sol
Das andorinhas de Saturno
Que viaja pelo mundo
Procurando a onde ir

E eu, que vago nesta terra
Desespero a tua espera
E tu tardas a chegar
Pois ocupado estás
A saltitar por esses astros
De mil e outras galáxias
Que não passam por aqui

Mas se te sobram uns trocados
Cá recebo um postal
E faço minhas tuas lembranças
Com esta paisagem sideral

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Nada pra ninguém

Corre, caneta, corre
Antes que acabem as palavras
Porque eu ainda não falei do teu beijo
Rimando com desejo
Nem tampouco teu olhar
Com qualquer verbo fatal

Mas que diabos declaro e a quem?
Se fosse para alguém
Seria para você
Mas eu continuaria de ninguém

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Depois, não.

Antes que eu embole e jogue fora
Antes que a plateia se canse e vá embora
Antes que me venha o ponto final
Antes que eu me entregue ao banal
Antes que eu durma e esqueça
Antes que eu morra e apodreça.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Índio apaixonado

Eu te amo
Seja lá o que isso quer dizer
Versinho que fiz pra você
Que tanto me faz sofrer

Eu te amo
Você nem se quer existe
Você que fiz pra Mim
De tanto que Mim insiste

terça-feira, 27 de abril de 2010

Sol rosa turquesa, verde limão, amarelo mustarda, verde bufa.

Um compositor maldito me mandou uma carta
Tinha escrito nela:
"Dar-se-á nela nada
Por mal dos homens que tem"

E eu cantei sua dor como se fosse minha
E eu fui ficando míope a medida que o Sol mudava de cor
E eu tirei a comida da boca do meu filho
Pois era meu o estômago que roncava

E eu saí viajando
Sem ter pra onde voltar

Hoje chove gaivotas

Olhem para o céu, crianças
Hoje chove gaivotas
Os meninos correm para o mar
Para salvar peixes que se afogam

O mundo ficou de cabeça para baixo
Olhares que julgam confundem-se com olhares que lastimam
Eu deixei de ser quem eu era
Para ser o que sobrou de mim

Eu brinco de viver
Sou livre enquanto durmo
E se tudo ao meu ver é um delírio
Eu não sei se estou enlouquecendo
Ou recuperando a sanidade