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sexta-feira, 14 de setembro de 2012

A poesia, quando é suja
Assim é de uma sujeira natural
Que não afoga feromônios no chuveiro
Nem os economiza durante o Carnaval
A poesia suja
Tem pena dos punheteiros
De punhetas invisíveis
Dos que não descobrem o próprio corpo
E se restringem ao trivial
A poesia suja
Assusta, mas derrete na boca
Como faz o primeiro orgasmo

terça-feira, 3 de julho de 2012


Chama-se metalinguagem
O marco de decadência do poeta
Pois quando a poesia foge
Fala-se dela na esperança de que volte.

Não pensem, pois
Que esta seja exclusividade 
Do mau poeta 
Porque a poesia é uma fêmea indomável
E quando tentam se apossar dela
Ela vai embora pra nunca mais. 

Sobre a poesia oculta

Imagem: STRANDED por Gesell

Há um poema que nunca será versado
A representação do lirismo em símbolo
D'um corpo feminino nu em pelo
Que pelos sentidos cultiva

Corpo Policultor,
Mil acordes hão de tentar
Dizer-te de dó a si
Dedos hão de calejar
Na vã tentativa de descrever-te
Sobre o lençol.
Ônus que cativa,
Temem-te como inimigo de tão tentador
Até que o inimigo dá abrigo
E multidões se perdam neste paradoxo

Mas para dizê-lo
É preciso pensá-lo
E quando tal imagem emerge à mente
Evaporam-se noções
Como as que exigem a linguagem
Para que cada célula pare 
Num gesto de reverência e contemplação
Ao que é sinônimo de não-sei-o-quê
Que até hoje não se pôde dizer. 


segunda-feira, 2 de julho de 2012


Outrora andarilho trilhava o caminho
face, seios, costas, ventre, coxas e sexo
Não como quem viaja e aprecia a paisagem
Mas como quem, nauseado pelo tedioso percurso
fazia-o exclusivamente por visar o destino.
Soube que te amava quando,
com intimidade ímpar,
pude atingir teu sexo sem cerimônias
E após prová-lo fiz por vontade própria
o caminho contrário:
sexo, coxas, ventre, costas, seios e face
como se cada um oferecesse um gozo único.
E não me surpreendi ao descobrir que ofereciam, de fato.
Agora, te amando desse jeito torto e descomedido
desafio quem ainda duvida
que seja infinito o que me dá sentido.

segunda-feira, 18 de junho de 2012




Precisei conhecer a grandiosidade
Das tão múltiplas quanto efêmeras paixões
Para perceber que só o pequeno me suprime:
Minha pequena me é sublime.

Eu-não-lírico



Será vã aqui
Qualquer procura por mim
O ser peca por ser
E sendo, é
Indigno do verso

Não ouso afirmar que houve
A garota de Ipanema
A filha do Jobim
Não é senão chará
Da Maria Luiza
E Chico nunca conheceu
Uma russa de nome Nina

Busquem aqui pelo amor,
O não personificado,
Pois ainda que a amada
(Embora eu nunca saiba)
Seja nula quanto somos todos
O sentir é sempre pleno
E plenamento compacto
Preenche lacunas d'um verso.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Aborto

Imagem compulsive.artician.com
 
Fetos escorregam ladeira abaixo
Crianças mendigam e invejam o meu lar
Bebês sufocam em sacolas plásticas
Todo caso é cruel quando é particular
Tarja Preta, maquiagem, televisão
Entre outras drogas modernas
Tentaram de tudo:
Não me deixaram nascer
Nem conseguiram me abortar.

Pseudo Psicopata


Imagem: http://euphoria.artician.com/

Pulsa o cérebro que descobre:
Inverteram meus cromossomos!
Qualquer dia a mão pára
De tremer de temor
Para pintar de uma vez a casa
Da vermelha cor
De sangue do meu sangue
Mas não do meu corpo
Deixando finalmente de ser
Teu ventríloquo torto
Porque ferida de pai
O filho não lambe

Maldita civilização
Bloqueadora de instintos
Que confunde jovens e filhotes
No mesmo ninho maternal

Só não desejo em segredo
Que numa dessas viagens
A morte lhe cruze a estrada
Por temer ser puxado
Pelo cordão umbilical
E cair junto no buraco
Por mim mesmo de Acaso denominado

terça-feira, 22 de maio de 2012

19 de Maio: O poema que não se calou e me fez falar.


Espalharam as línguas mal amadas
Que dizê-lo é duelar com o amor
E que para sobreviver
É preciso acertar
Mas entre morrer ou seguir agonizante
Disponho-me ao sacrifício:
Eu te amo.



segunda-feira, 14 de maio de 2012

Meus olhos brilham e eternizam minha última poesia de amor. Tecerei, a partir de agora, versos sobre o mundo e suas mazelas aos cegos voluntários, aos que se regorzijam com sabores óbvios e saberes podres. Escreverei, portanto, o que há de mudo, deixando o amor e suas cores de desassosego a serem pintadas por quem ainda não os encontrou.

domingo, 13 de maio de 2012

Drama Erótico

Fazia-o bem, sim
Posso não lembrar-me o ritmo
Ou expressão orgástica
Mas recordo-me bem
O anseio de reencontrá-lo

Deitada sob seu corpo
Ouvia num gemido
Um grito de socorro
Que em meu peito cultivara
A seiva dos novos tempos
Pertencente aos poetas mutantes,
Às beatas que não são,
Às putas tristes
Da tristeza de solidão
Que todo sábio tem

Ao despir-me, despia-me
Do carma cristão chamado pudor
E o fim d'um gozo era anúncio
D'outro maior que estava por vir
Este, porém, de natureza diferente
Que sem tocar, dizia:
"Conta-me mais.
És tão eu mesmo.
Fala-me mais de ti,
Para eu me conhecer melhor"

E entre fluídos nossos
A filosofia era personificada
Em orgasmos múltiplos
Que, ao fim, não pedia "eu te amo"
Mas bradava
"Eu te entendo,
Eu te sensibilizo,
Eu te filosofo"
 

sábado, 12 de maio de 2012

Um poema em francês ao poeta francês


À Paris, où je suis devenu 
Monstre de moi même
La fumée des cigarettes 
Sont mes fantômes

Mes enfants 
Refusent mon sangre
Tandis que mes parents 
Oublient mon nom

"C'est dommage qu'il ne puisse plus coller
 les morceaux de lui-même"
Dis-moi un cri à la rue

Mais tout c'est bon
Quand je suis la vague
Dans l'île d'une femme

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Sortido

Caminha ao meu lado
Quem não sabe voar
Mulher pássaro, comigo
Não há de fazer par

Se à noite provocas
E a noite prova
Ser mais longa que o furor
Poetas, de longe, oiçam
O urgir da minha dor

Leva e trás
De amor em flor
Vai contigo o sonho
D'um ninho no cais
E caso me veja
Seja onde onde for
Finja que não ser eu
Quem um dia
Jurou-te amor

quinta-feira, 29 de março de 2012

Mundanças


Maria era velha, sabia e disse:
"O mundo se mudou com as mundanças!
E só quem foi do tempo das falanças, sabe:
Onça é bicho que cá nunca teve
Teimoso é homem que não escuta:
Perigoso é cutucar
Aranha com vara curta."

sexta-feira, 2 de março de 2012

Estreitos extremos

O que há de mais erótico do que um simples corredor?
Quando teu amante se deita por cima
O chão,qual libertino, te agarra por trás
Penetra cada um dos teus poros
E libera-te somente após tatuar em tuas costas
Todas aquelas cerâmicas frias

Nada há de mais erótico
Que um simples corredor
Estreito ninho de amor
Onde paredes transcendem
A camas verticais

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Rosa da Vida

Rosas brancas pra minha preta Rosa
Que num balançar das ancas
Traduz nosso amor em água
Que aposta no jogo
Um samba nua em pelo
E perde porque quer

Rosas brancas pra minha preta Rosa
Que num torcer dos dedos
Me chama pelo nome dos amantes passados
Porque amor é assim
Chega sem aviso prévio
E vai embora sem deixar recado

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Suficiente

Satisfação é desejo reprimido
Que de ver, precisa tocar
Mas ao delírio pertence mais o anseio
É cada um com seus tremores

Olhos que tudo vêem
Mãos que pertencem apenas ao próprio órgão
Órgão dependente de um só par de mãos
E, se flexível é o bastante,
Aventura-se em autofelação

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Amante Amador

A origem dos orifícios
É mais complexa
Que um suco de boas tetas
A receita da foda perfeita
Se deleita longe do alcance
Dos ingênuos amantes
Atrás das minhas pálpebras
Salivam-me mil Dionísios ocultos
Quando és tu quem comigo transa

Vulgar Peculiar

Questionar minha sanidade
Faz de mim menos insano
Nesse batuque em desalento
Alívio demais sufoca
Loucos de verdade não o fazem
Putas, que de fato são, não o sentem
São as almas prostituídas
São corpos em conserva
Do contrário, num gozo
O corpo perece
E geme uma poesia
Que anuncia a vida
Como um longo sonho erótico

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Morrer de medo

Todo dinheiro depositado
Domingos na missa
Rotina de esposa submissa

Teus filhos bem criados
Pelas criadas pós-graduadas
Agora se reduzem ao esquecimento

Os netos dos teus netos
Confundem genealogia com genecologia
E não se interessam sequer pelo teu nome
Maria, Carla, Cláudia, Rita, Rosa
Existem muitas, existirão mais
E outras que não existem mais

A vida, afinal, é para o vivos
Você é a lápide onde jaz