Fazia-o bem, sim
Posso não lembrar-me o ritmo
Ou expressão orgástica
Mas recordo-me bem
O anseio de reencontrá-lo
Deitada sob seu corpo
Ouvia num gemido
Um grito de socorro
Que em meu peito cultivara
A seiva dos novos tempos
Pertencente aos poetas mutantes,
Às beatas que não são,
Às putas tristes
Da tristeza de solidão
Que todo sábio tem
Ao despir-me, despia-me
Do carma cristão chamado pudor
E o fim d'um gozo era anúncio
D'outro maior que estava por vir
Este, porém, de natureza diferente
Que sem tocar, dizia:
"Conta-me mais.
És tão eu mesmo.
Fala-me mais de ti,
Para eu me conhecer melhor"
E entre fluídos nossos
A filosofia era personificada
Em orgasmos múltiplos
Que, ao fim, não pedia "eu te amo"
Mas bradava
"Eu te entendo,
Eu te sensibilizo,
Eu te filosofo"